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São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 2003

ANTONIO DELFIM NETTO

Antonio Serra

Uma pequena empresa paranaense, a Segesta Editora, continua a surpreender os apreciadores da história da teoria econômica por três motivos: 1º) pelo cuidado excepcional na escolha dos autores; 2º) pela qualidade e carinho das traduções e 3º) pelo hercúleo esforço para manter a sua promessa inicial. Trata-se de uma iniciativa corajosa e altamente valiosa para o enriquecimento da bibliografia ao alcance dos estudiosos da teoria econômica e da sua história. A coleção Raízes do Pensamento Econômico incluirá obras relativamente raras nunca traduzidas para o português na sua integralidade.

Chega agora às livrarias uma pequena jóia: o "Breve Tratado das Causas que Podem Fazer os Reinos Desprovidos de Minas ter Abundância de Ouro e Prata", de autoria do "dottore" Antonio Serra, publicado originalmente em Nápoles, em 1613. Serra talvez tenha sido o primeiro autor a sugerir as vantagens da produção industrial sobre a agrícola -devido aos maiores riscos e rendimentos decrescentes desta última. Dos autores mercantilistas, ele talvez tenha sido o que melhor compreendeu o fenômeno do balanço comercial (inclusive os itens "invisíveis") como decorrência do funcionamento de toda a economia. Suas idéias de certa forma anteciparam os mercantilistas ingleses, como Thomas Mun, que depois reconheceram a taxa de câmbio como resposta às variações do balanço comercial. Antonio Serra é a prova de que a teoria econômica não começou em Cambridge, Inglaterra, nem terminou em Cambridge, Massachusetts...

A importância de Serra vem sendo reconhecida lentamente. Há pouco mais de um ano, a editora Verlag Wirtschaft und Finanzes, de Düsseldorf, publicou na sua extraordinária "Klassiker der Nationalökonomie" uma reprodução fac-símile do original do "Breve Trattato" e um volume de estudos sobre ele feitos por renomados economistas. O título do artigo do professor Bertram Schefold que abre os comentários é: "Antonio Serra: Fundador da Teoria Econômica?". Schumpeter ("History of Economic Analysis") e Spiegel ("The Growth of Economic Thought") tratam Serra com respeito, mas ele não é citado no magnífico Blaug ("Economic Theory in Retrospect").

Com o "Breve Trattato", a Segesta Editora atinge o quarto volume do seu projeto editorial. Já foram publicados -com a mesma qualidade e o mesmo cuidado- "Da Moeda" (1751), de Ferdinando Galiani, "Economistas Políticos", escritos importantes de oito autores clássicos (séculos 17 e 18) e "Ensaio sobre a Natureza do Comércio em Geral" (1755), de Richard Cantillo.

Os próximos lançamentos prometidos são os "Diálogos sobre o Comércio dos Cereais" (1770), do mesmo Galiani, e o "Pequeno Tratado da Primeira Invenção das Moedas" (1376), de Nicole Oresme.

O projeto da Segesta merece todo o apoio dos que se interessam pela teoria econômica e pela economia política. Trata-se de uma contribuição fundamental para a melhoria do conhecimento da literatura econômica entre nós. Talvez seja indispensável mesmo para os que se julgam "cientistas" e, portanto, desinteressados dos aspectos arqueológicos da profissão...

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