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Valor | Segunda-feira, 09 de setembro de 2012

Um editor apaixonado por economia

Marli Lima de CuritibaNavi/ValorAndrea Vicentini, da Segesta Editora, lança obras pouco conhecidas no Brasil

Qual a influência do aumento do preço dos grãos na economia? Embora existam muitas respostas para a pergunta, nenhuma se parece com a do italiano Andrea Vicentini, de 72 anos, dono da Segesta Editora, de Curitiba. "A alta do milho vai me permitir editar mais dois livros", diz ele, sobre a coleção "Raízes do Pensamento Econômico", que nos últimos 13 anos trouxe para o Brasil traduções de obras pouco conhecidas no país.

Até agora há nove títulos publicados. Nenhum deles deu retorno financeiro, mas isso não impediu esse economista e produtor agrícola de incluir no portfólio, recentemente, uma obra própria (sobre a aventura dos imigrantes italianos) e uma da ex-mulher, Marzia, que morreu em 2009, sobre literatura italiana.

É em uma sala no centro de Curitiba, entre caixas com livros ainda sem destino certo, que ele fala dos planos futuros. Ele pensava em vender a saca de milho que produz no interior paulista por R$ 18 e está negociando por R$ 30. Com a folga no caixa, quer lançar "Escravidão, Pobreza e Mendicância", com textos de Benjamin Franklin, Pompeo Neri e Francesco Maria Gianni, e "Tratado da Circulação e do Crédito", de Isaac de Pinto. Este último foi sugerido por um leitor, Adalton Diniz, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

"A publicação de obras econômicas, cujo interesse se restringe a um pequeno grupo de especialistas apaixonados, é inviável do ponto de vista mercantil. Só uma editora dirigida por um apaixonado pela história do pensamento econômico, como a Segesta, poderia publicar obras, algumas já esquecidas, de interesse meramente intelectual", comenta Diniz.

Antes, os fãs do gênero poderão ler "Os Trabalhos e os Dias", do grego Hesíodo, que vai para a gráfica em setembro. "É um livro de 2.700 anos que tem como foco o trabalho", comenta Vicentini, acrescentando que a edição será bilíngue, em português e grego. Ao contrário dos outros títulos, a obra de Hesíodo não é inédita no Brasil, "mas achamos importante incluí-la na coleção", diz Vicentini, que estudou economia na Itália, antes de se mudar para o Brasil para ajudar a criar uma cooperativa agrícola em Pedrinhas Paulista (SP).

"Não aprendi nada no curso. Aprendi com as pessoas que fazem a economia e, depois, pela literatura", conta. "As faculdades de economia dão muita ênfase para a matemática."

Vicentini prefere outras disciplinas e arrisca dizer que alguns textos que publicou soam "quase como um romance". Mas ele também sabe fazer contas: para os três primeiros livros, de autores italianos, ganhou apoio do Instituto Italiano de Cultura e, assim, custeou a publicação de seis obras.

Depois, a Segesta ganhou publicidade nas colunas do ex-ministro Delfim Netto. "É nosso maior propagandista", diz Vicentini. Em 2010, Delfim escreveu sobre o nono livro da coleção, "Novos Princípios da Economia Política", de Jean-Charles Léonard Sismonde de Sismondi. "Trata-se de empreitada de maior alcance para a ampliação da nossa cultura econômica", escreveu Delfim. "Não poderia haver melhor oportunidade para servir Sismondi aos nossos jovens economistas do que o momento atual, quando o fracasso da administração econômica dos países transformou o Estado que prejudicava os 'mercados' em 'seu salvador de última instância'."

"Temos sucesso de crítica, mas não de venda", lamenta Vicentini. Sismondi, diz, é "um livro de luta", preparado e revisado durante sessões de quimioterapia de Marzia. Para aumentar o alcance dos textos, ele permite downloads gratuitos no site da editora e distribui exemplares em bibliotecas.

Se falta dinheiro para pagar as contas da editora, diz que chega a colocar parte da aposentadoria no projeto. "Pedir patrocínio dá muito trabalho". Ele tem apoio dos filhos na empreitada e encomenda as capas para uma das filhas.

Há quase dois anos, ele se casou com a psicóloga Luzia Paglione. Foi na cidade onde vivem os parentes dela, Echaporã (SP), que seu livro "Allegranza - Uma Aventura Brasileira" foi apresentado. "O que vendi lá foi para ajudar a área social da cidade", diz Vicentini. Luzia, que começou a ler sobre economia recentemente, também não se mostra interessada em acúmulo de riquezas. Atendeu 20 anos de graça e trabalhou como voluntária da Pastoral da Criança. "Tenho renda para viver. Por que cobrar?"

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