A Segesta traz uma nova ediçao das Cartas de lnglaterra, de Eça de Queirós (1845-1900). Transitando par assuntos que vão da política internacional a literatura, dos costumes da sociedade vitoriana as relações entre Brasil e Portugal, constatamos nesta obra a atualidade de seu pensamento. Eça nos lembra a frase de Tzvetan Todorov (Deveres e de/eites): "Anões, podemos nos colocar sabre os ombros dos gigantes: esse é nosso privilégio de leitores." Eça e um gigante das letras, nos ombros de quern conseguimos enxergar melhor e mais longe. E constatamos, mais de um seculo depois, que a humanidade insiste em seus erros ("A história e uma velhota que se repete sem cessar", ironiza Eça já nas primeiras linhas, ao tratar justamente do Afeganistao).
Mas, apesar disso, temos de manter a esperança de que iremos aprender a ter respeito com as diferenças, solidariedade com deficiências e compreensão com todos. Para alimentar essa esperança é que vem em boa hora esta obra dedicada à memória de Luzia Paglione. A quen não a conheceu, pode-se socorrer da apresentação que Eça nos dá das personagens do escritor Lord Beaconsfield (mais conhecido entre nós coma Benjamin Disraeli): ela era de uma "beleza espiritual, de uma tão alta nobreza de costumes, que os olhos enlevam-se, a imaginação namora-se desse mundo fictício, dessa humanidade de poema, onde nada existe de vulgar ou de baixo, e onde brilham formas maravilhosas e transcendentes do pensar, do sentir e do viver". A homenagem do editor nao poderia ser mais acertada.
Eduardo Paglione
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